Livro ‘A casa sem janelas’ por Barbara Newhall Follett

Livro / eBook – A Casa sem Janelas: E a vida de Eepersip lá

Escrito por: Barbara Newhall Follett

Ler A Casa Sem Janelas foi, para mim, como atravessar um portal de folhas e brisas, guiado por uma menina que entendia o mundo de um jeito que nós, adultos, já esquecemos.

Escrito por Barbara Newhall Follett aos doze anos, após começar o projeto aos oito, este livro é mais do que um feito precoce: é um manifesto delicado e ousado sobre liberdade, beleza e pertencimento.

Em tempos saturados de narrativas artificiais, a história de Eepersip, a jovem que abandona sua casa para viver em comunhão com a natureza, soa quase subversiva. Ela não foge por dor, mas por desejo – o desejo de estar em um mundo sem cinismo, sem muros, sem janelas. Um mundo onde tudo pulsa com vida verdadeira. E é justamente aí que reside a força desta obra: em sua recusa a aceitar a domesticação da alma.

Não é difícil entender por que A Casa Sem Janelas foi celebrada por publicações como o New York Times. A linguagem lírica, surpreendentemente refinada para alguém tão jovem, conduz o leitor por florestas, campos e montanhas com um encantamento quase hipnótico. Há ecos de Thoreau e Rousseau em suas páginas, mas com uma leveza que só a imaginação infantil pode oferecer.

Mais do que literatura infantojuvenil, este livro é um tratado poético sobre o retorno à essência. Barbara nos presenteia com imagens quase cinematográficas – cada flor, cada raio de sol, cada animal silvestre é descrito com um amor tão profundo que o mundo real começa a parecer pequeno demais. Eepersip não é uma fugitiva, mas uma visionária.

Claro, é impossível ignorar a sombra trágica que paira sobre a autora. O desaparecimento de Barbara em 1939, aos 25 anos, ressoa como um eco melancólico do próprio destino de sua protagonista. É como se, tal qual Eepersip, ela também tivesse desaparecido na vastidão verde de seu próprio sonho. Esta nova edição brasileira, ilustrada por Renata Volcov e traduzida por Lígia Garzaro, parece querer corrigir a injustiça do esquecimento – e faz isso com brilho.

Como escritor profissional, tenho plena consciência de que livros assim são raros. A Casa Sem Janelas não é apenas um conto encantador: é uma obra que questiona o próprio conceito de civilização e nos convida, gentilmente, a repensar a vida que levamos. Num mundo de algoritmos e concreto, ouvir a voz de Barbara é como encontrar uma trilha esquecida no meio da floresta.

Para leitores de todas as idades, mas especialmente para aqueles que sentem que algo essencial se perdeu no caminho da vida adulta, esta obra é um convite. Um chamado sutil para sairmos de nossas janelas e redescobrirmos, com olhos de criança, o que significa viver de verdade.